Ele aparece de surpresa e a abraça como quem quer de fato abraçar alguém, forte e carinhoso. Ela respondeu segurando seu rosto suavemente entre as mãos e beijando-lhe as bochechas.
Dentro dela algo acontece cada vez que ele aparece, seus pensamentos somem sem nem mesmo anunciar se voltam, o coração acelera, as pernas extremecem, não consegue se lembrar do compasso da respiração, as pessoas a sua volta se tornam borrões aleatórios.
Todas as atenções e emoções focadas num só instante, que dura por um infinito de segundo.
Segundo este que ambos gravavam na memória, reservados para os dias que se sentirem sós.
E então os braços foram desenlaçados , a tensão se dissipava e em instantes seriam dois estranhos, de novo, conversando distraídamente com seus respectivos amigos.
No entanto, a rotina foi quebrada pelo som de três palavrinhas curtas, discretas, capazes de incendiar e congelar todo um universo particular em poucos minutos quando sinceramente afirmadas:
- Eu amo você! - ele disse já saindo de cena. Era perceptível a inocência do gesto, apesar disso aquele algo dentro dela não acreditara, não era o momento, não era a modulação certa da voz para se declarar amor, estava de saída separando-se dela como duas vogais à beira do hiato, e ele soou tão descontraído quanto um tímido Oi!
Ela sorriu emquanto ele sumia, entendeu naquele momento que ele não poderia ser a pessoa certa pra ela ainda que seu coração viesse à boca cada vez que ele se aproximava. Acreditava que o puro amor, estava acima da banalização, do alheio.
E por isso, seu príncipe foi ,gradualmente, se desencantando.
[Título: Soneto de Separação; Fragmento. Vinícius de Moraes]